Em entrevista ao jornalista Lucas Musetti da Gazeta Esportiva, o presidente do Santos defendeu o controle das contas e que isso está trazendo credibilidade novamente ao clube.
“As informações correm. Mudamos a credibilidade do Santos. O mercado já vê diferente. E ainda bem que agora acreditam nos acordos. Não sou político de carreira. Vim para salvar o Santos. Se querem bater ok, entra por um ouvido e sai pelo outro. Meu objetivo é resolver”, disse Rueda.
Sem experiência na política e com pouca vivência no futebol, Rueda encontra dificuldade no que chama de “moralizar” o clube. Na visão do presidente, “futebol é feito para a corrupção”.
O presidente santista se nega a pagar comissão e luvas para reforços e renovações. Como resposta, encontra ainda mais dificuldade nas negociações. Com pouco dinheiro em caixa e resistência dos empresários, o mandatário evita as tentações.
“Falam que o futebol está largado. Isso nunca existiu… Como a bola não está entrando, veem tudo como errado. E a vida não é 8 ou 80. Torcida é paixão, quer resultado, é normal. Não é justificativa, mas narro o que aconteceu: tínhamos o transfer ban, reforçamos com jogadores por empréstimo quando acabou. E cabia à direção trabalhar com a razão. Quando a direção se vê pressionada, a tentação aparece para fazer algo que não deve. E é muito fácil contratar jogador. Qual o salário? Um milhão? Está fechado. Põe para jogar e depois não paga. Demora três meses para pagar um… É só ver o problema do São Paulo (Daniel Alves). Esses erros levam os clubes a situações irreversíveis. Dívidas foram feitas há muito tempo. Chega uma hora que o crédito acaba, é como pirâmide. E aí vem multa, processo, transfer ban, conta bloqueada. Eu não podia ser mais um”, explicou.
Criticado por parte da torcida, Andres Rueda segue firme com as suas convicções: “Na primeira conversa com os jogadores, já falei que não faria promessas que não poderia cumprir. E quando não puder, direi que não. E procuro fazer isso à risca em relação a tudo. Em um dia que eu não fizer isso, acabou. Tenho preocupação sagrada com a parte orçamentária. Podem tirar sarro sobre o presidente de planilha, mas para mim imposto e salário é lei, obrigatório. Não tem história nem verso. Gosto de ter tudo organizado. Cheguei e não tínhamos controle de nada, fiz um inventário do zero e sabemos até quando a cadeira muda de lugar. Isso é organização, assim como não poder contratar quem vai tirar o balanço do fluxo de caixa e impossibilitar o pagamento da folha. Não prejudico só quem vem, mas todo o grupo. E aí desmonta. Infelizmente, no momento, e é momentâneo mesmo, não podemos investir e escolher quem eu quero trazer, sabendo que posso pagar. Mas é um sacrifício necessário. Não posso repetir Cueva e Bryan Ruiz da vida. Não é que não valiam aquilo, mas no momento não podíamos”, analisou.
“Qualquer jogador sul-americano mais ou menos pedem 2 ou 3 milhões de euros, mais luvas… Ótimo, mas não cabe no nosso bolso. Faço de tudo para que no melhor prazo possível possamos ter essa condição. É como pessoa física. Não adianta estar com dinheiro justo para passar o mês e comprar um terno italiano. Vai na lojinha mais baratinha e compra um de mil, pô”, emendou.
A crise financeira do clube é conhecida, mas foi surpreendido algumas vezes, como quando soube nos primeiros dias de gestão da dívida de R$ 60 milhões por apropriação indevida de impostos em salários de funcionários não repassados ao governo.
“Eu sabia dos problemas e nosso grupo se preparou para eles, mas algumas coisas só se sabem lá dentro. Apropriação indébita é crime. Eu precisei ficar de joelhos em Brasília para renovarmos o Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro)”, lembrou.
O Santos fez Rueda, aos 65 anos, trocar a aposentadoria milionária pela gestão de um clube quase falido:
“Eu moro com a minha esposa, cachorro e papagaio. Meu filho mora na Austrália. No começo, ainda na campanha, ela reclamou, claro. A vida era tranquila… Mas agora entende e dá força. Na minha empresa eu chegava às 10h e ia embora às 16h. Assistia Netflix até madrugada, acordava 10h ou 11h todo dia… Se não fosse a pandemia, viajaríamos muito, até porque temos casa na Espanha e filho na Austrália para visitar. Mas ela foi ponta firme, comprou a ideia e me dá muito apoio. É compreensiva, não posso reclamar. O Santos é de segunda a segunda e ela já sabe. 18 horas por dia. Não tem sábado, domingo ou feriado. Chego 8h30 na Vila Belmiro e vou embora às 19h ou 20h”, desabafou.
“Não é fácil, mas é bom sentir que estou fazendo o Santos melhorar”, concluiu o presidente na entrevista à Gazeta Esportiva através do jornalista Lucas Musetti.
(Fotos: Ivan Storti/Santos FC)