O Santos Futebol Clube, casa do Rei Pelé e um dos maiores ícones do futebol mundial, vive a pior crise de seus 112 anos. Com uma dívida superior a R$ 600 milhões em 2024 (segundo balanço oficial), projeções apontam para R$ 900 milhões até o fim de 2026, agravadas por receitas estagnadas anuais que representam menos da metade de rivais como Palmeiras e Flamengo. Preso a uma gestão associativa obsoleta, o clube está à beira da irrelevância. A questão não é se o Santos deve se tornar um clube-empresa, mas quando — e cada dia de hesitação torna sua recuperação mais incerta.
O modelo associativo, com suas disputas políticas , amadorismo, folclore e falta de visão estratégica, é um peso que o Santos não pode mais carregar. A única saída é a transformação em clube-empresa, com um parceiro capaz de fazer do Santos sua “joia da coroa” global. A escolha do modelo e do investidor definirá se o clube retomará seu protagonismo ou afundará de vez.
Neymar e a Falência do Modelo Associativo
Há pouco mais de um mês, Neymar retornou ao Santos, impulsionando as receitas do clube em 2025. No entanto, esse aumento é um fenômeno isolado, sem qualquer mérito de planejamento ou execução da gestão atual. Mesmo com o craque de volta, o Santos não extrai todo o potencial dessa parceria, pois, nos 13 anos desde sua saída para a Europa, não houve preparação para capitalizar seu retorno. Assim como Neymar, outros Meninos da Vila — como Robinho, Rodrygo e tantos talentos revelados na base — brilharam e partiram, mas o clube nunca estruturou uma estratégia para lucrar com seu legado ou planejar suas voltas. O modelo associativo mostra-se falho e falido, gestão após gestão ,e a pior lembrança recente é comandada por Andrés Rueda (2021-2023), marcada pela lenda da austeridade — um discurso vazio que prometia equilíbrio financeiro, mas resultou no primeiro rebaixamento da história do clube em 2023 e no aumento exponencial das dívidas. Tudo indica que o “fator Neymar”, sob a condução dos atuais gestores, será mais um breve momento de euforia, seguido por um retorno ao fundo do poço financeiro, esportivo e moral. Esse cenário escancara a falência do modelo associativo e reforça que o caminho da profissionalização, com a transformação em clube-empresa, é a única via para um protagonismo sustentável e de longo prazo. O Santos não tem mais tempo para apostar no crescimento orgânico ou no sonho ilusório de que cartolas amadores e retrógrados, presos a práticas do passado, conseguirão profissionalizar o clube.
O abismo em relação aos rivais, que acumulam títulos e estabilidade na última década, só cresce exponencialmente. Para o Santos recuperar o tempo perdido, é imprescindível uma reformulação total do modelo de gestão, algo que só será viável quando grupos políticos perderem a possibilidade de pleitear qualquer cargo na gestão do clube. Para alcançar seu potencial máximo — tanto em resultados esportivos quanto em receitas, consolidando-se como a grande marca global que é —, o Santos precisa de um parceiro ideal, com expertise comprovada e capacidade de investimentos robusta, quase “ilimitada”. Sem essa ruptura drástica, o clube seguirá refém de ciclos de esperança fugaz e fracassos estruturais, cada vez mais distante do topo que sua história merece.
Modelos de Clube-Empresa: Opções para o Futuro
O Brasil oferece a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) como caminho jurídico, mas o mundo mostra alternativas que o Santos pode adaptar:
1. SAF (Sociedade Anônima do Futebol) – Exemplo: Bahia (City Football Group)
Regulamentada pela Lei 14.193/2021, a SAF permite investidores assumirem o controle com incentivos fiscais. O Bahia, sob o City Football Group, dobrou sua receita em dois anos (de R$ 90 milhões em 2022 para R$ 180 milhões em 2024) e voltou à elite competitiva.
2. Clube-Empresa de Capital Fechado – Exemplo: Bayer Leverkusen
Pertencente à Bayer, o Leverkusen combina estabilidade financeira com sucesso esportivo. Um modelo assim exige um parceiro sólido, sem diluição de controle.
3. Modelo 50+1 – Exemplo: Bayern de Munique
Na Alemanha, os sócios mantêm 51% do controle, equilibrando influência da torcida e gestão profissional. O Bayern faturou € 750 milhões em 2023 e domina o futebol europeu — mas exige engajamento maciço dos associados, algo desafiador no contexto brasileiro.
4. Clube-Empresa com Capital Aberto – Exemplo: Manchester United
Listado na NYSE, o Manchester United captou US$ 233 milhões em sua IPO em 2012, mas sofre com pressões de acionistas. Para o Santos, esse modelo poderia atrair recursos sem ceder tudo a um único dono.
Exemplos Práticos: Lições do Sucesso e do Fracasso
A transformação em clube-empresa não é garantia automática de sucesso. Vasco, Cruzeiro e Coritiba, com SAFs mal planejadas, enfrentam dívidas persistentes (o Vasco deve R$ 700 milhões mesmo após a SAF) e parceiros sem visão de longo prazo. O Botafogo de John Textor, embora campeão brasileiro e da Libertadores em 2024, é um caso intermediário: limitado como satélite da Eagle Football, não reflete a ambição que o Santos merece.
Já o Bahia, com o City Football Group, é um exemplo positivo: além do salto financeiro, disputa títulos e modernizou sua estrutura. Mas o Santos, com sua marca global, não pode aceitar ser coadjuvante em um portfólio multinacional. Sua história exige mais.
Um Parceiro à Altura da Grandeza do Santos
O Santos é a única marca do futebol brasileiro com alcance verdadeiramente global, impulsionada por Pelé e um legado único. Não há, no Brasil, investidores com capacidade financeira e visão para resgatar o clube — empresas locais carecem da escala necessária para um projeto dessa magnitude. Assim, o olhar deve se voltar ao exterior, onde três candidatos se destacam:
1. PIF (Public Investment Fund – Arábia Saudita)
Com US$ 700 bilhões em ativos e investimentos no Newcastle e na liga saudita, o PIF tem poder para saldar as dívidas do Santos, construir um estádio de 40 mil lugares e montar um elenco de elite. Poderia usá-lo como âncora sul-americana em sua estratégia global, mas o clube deve negociar para evitar ser apenas um braço de sua rede.
2. Fenway Sports Group (EUA)
O FSG transformou o Liverpool de um clube endividado em um gigante que fatura € 600 milhões por ano, com títulos europeus e mundiais. Sua expertise em branding e gestão sustentável faria do Santos um líder no Brasil, desde que o clube fosse o foco principal, não um ativo secundário.
3. QSI (Qatar Sports Investments)
Dono do PSG, o QSI investiu € 1,5 bilhão em 10 anos para criar uma potência. O Santos poderia ser sua porta de entrada na América do Sul, mas há o risco de ficar à sombra do projeto parisiense. Um acordo bem negociado é essencial.
Benefícios e Desafios
Com um parceiro desse porte, o Santos poderia:
– Quitar suas dívidas em pouco tempo
– Construir uma arena moderna, gerando centenas de milhões anuais em receita extra.
-Construir Centros de Treinamento modelo para as as categorias do clube
– Atrair craques e gestores de elite
– Internacionalizar sua marca, mirando mercados como Ásia, Oriente Médio e Estados Unidos.
Os desafios incluem riscos como a perda de autonomia esportiva, que pode ser mitigada com “golden clauses” no contrato garantindo poder de veto em decisões-chave, e a possibilidade de o Santos ser um ativo secundário em portfólios globais, evitável com cláusulas que exijam investimentos mínimos anuais. Esses obstáculos são superáveis com transparência e um projeto bem estruturado.
O Santos Não Pode Esperar
Se nada mudar, o Santos terá mais de R$ 900 milhões em dívidas em 2026, com receitas insuficientes para cobrir nem metade disso. Clubes como Palmeiras (R$ 1 bilhão em receita) e Flamengo (R$ 1,2 bilhão) já deixaram o Santos para trás. O modelo associativo é um caminho para o esquecimento.
A transformação em clube-empresa com um parceiro de elite não é só a salvação — é a chance de o Santos voltar a ser uma potência global. O tempo é curto, mas a história do clube merece essa aposta. Hesitar agora é condenar o Rei e sua coroa ao passado.
Por Rodrigo Maruca